sobre gente cretina

"Há 300 anos, as pessoas se satisfaziam com explicações baseadas no sobrenatural; hoje, elas se deixam convencer mais facilmente por explicações que apelem -- ou pareçam apelar -- à ciência, à lógica e à razão. Ciência e tecnologia carregam uma mensagem simples e persuasiva: os problemas do mundo são solucionáveis com o emprego de engenhosidade e inovações materiais; os enigmas do mundo -- as origens do universo, por exemplo -- podem ser desvendados pela mente científica. No entanto, embora as realizações da ciência tenham sido notáveis, não se pode considerá-las revolucionárias no estudo na natureza humana. De certo modo, os problemas mensuráveis estudados pela ciência e pela tecnologia são mais facilmente analisados do que os problemas humanos. É mais fácil explorar a lua do que explorar o coração e a mente do ser humano.

O conhecimento ocupa um dos primeiros lugares na hierarquia das virtudes mentais. A palavra "sabedoria" é pouco empregada em um século que valoriza mais do que nunca o conhecimento. Até o Livro dos Provérbios trata da sabedoria. Os judeus simples citados no Antigo Testamento -- como os pastores e carregadores de água -- provavelmente estavam mais empenhados em alcançar a sabedoria do que muitos ganhadores do prêmio Nobel, decorridos 2,5 mil anos. Sabedoria se refere, em primeiro lugar, aos seres humanos e a suas dificuldades.

O indivíduo tem o direito de dizer que não acredita em Deus. Mas calar-se e fugir à discussão sobre a natureza humana que cerca todo o conceito de 'Deus' é não perceber por que o cristianismo faz tanta gente pensar há tanto tempo."

Em "Uma Breve História do Cristianismo", de Geoffrey Blainey (pp.329-330)

Um fato da vida que há algum tempo tenho constatado: alguns seres ateístas são tão chatos quanto alguns religiosos fundamentalistas. 

Eles fazem questão de espalhar sua mensagem dispensável como se fosse uma coisa inquebrantável, certa, indiscutível. Batem o pé, com ar de superioridade: "Deus não existe porque nunca foi provada sua existência." E nem sua ausência.

Eles baseiam-se na ciência pra argumentar suas teorias especiais. Mas a própria ciência vive cometendo erros e se contradizendo nas milhões de pesquisas que cada cabeça faz, que cada época faz. Cada pesquisa esdrúxula sobre assuntos elementares que já estamos cansados de ler (de sexo X esperma X felicidade a benefícios da cor ocre na sua vida profissional). Sabe aquilo? Um dia o café é ruim, no outro bom. Uma hora faz bem comer chocolate, depois, ele é a desgraça na vida terrestre. 

Acredito que, assim como algumas pessoas se deixam cegar pelas doutrinas desta ou daquela religião, os "ateístas militantes" parecem emburrecer diante de séculos de história. Assim como acusam a religião de obscurecer a mente dos crentes, alguns descrentes fecham os olhos para os benefícios que a fé em algo maior já trouxe para a humanidade. Até mesmo porque algumas das mentes mais brilhantes, esclarecidas e abertas eram/ são de pessoas religiosas.

Isso não é uma crítica ao ateísmo. Não é uma generalização. Já disse aqui uma vez que sou ateísta/ cética/ agnóstica/ descrente e passei por uma fase de cega ignorância e pretensão, acreditando que podia compreender tudo o que acontece na minha vida baseando-me na tal ciência (que, a não ser que você seja um cientista, é quase tão impalpável quanto o misticismo), até na literatura, como se isso pudesse me tornar mais especial do que o resto das pessoas. 

Isso é apenas por ter me deparado com algumas manifestações tão arrogantes, desrespeitosas e pedantes que me dão vontade de vomitar nos pés dos autores. Pessoas tão estudadas e supostamente inteligentes, mas que se comportam como adolescentes insolentes que acreditam reter o segredo da vida.