The Honeymoon Killers (1970) & Lonely Hearts (2006)

 

Histórias de serial killers nem sempre rendem boas produções, mas quase não interessa, pois o interesse pelo acontecimento vai além de uma crítica cinematográfica. Aqui, falo de duas adaptações sobre The Honeymoon Killers. Um casal que parecia viver um romance intenso, e seu efeito colateral foi um rastro de vítimas. De um lado, o noir estrelado por John Travolta, James Gandolfini, Salma Hayek e Jared Leto. Do outro, um filme de 1970, em preto e branco granulado que captura a essência cruel dessa história. Aqui eu conto como descobri as duas versões e por que uma delas ficou marcada na minha memória.

Tudo começou com uma zapeada no Amazon Prime Video. Me chamou a atenção um cartaz com James Gandolfini, John Travolta, Salma Hayek e Jared Leto. Lonely Hearts: atores conhecidos + noir + true crime = chance de sucesso alta.

O detetive Elmer Robinson (John Travolta), ainda lidando com o luto pela esposa que tirou a própria vida, investiga dois assassinos famosos na Nova York dos anos 40. Martha Beck (Salma Hayek) e Ray Fernandez (Jared Leto), conhecidos como os “Assassinos dos Corações Solitários”, caçam mulheres solitárias e viúvas de guerra deixando um rastro de corpos pelo caminho.

O filme tenta equilibrar a caçada policial com a vida pessoal do detetive de Travolta [seu luto, seu relacionamento escondido com Laura Dern (que até agora não entendi se começou antes da mulher dele se matar), a conturbada situação com o filho e a parceria com Gandolfini (um fofo, impossível não sentir saudade de The Sopranos)]. A narrativa vai e volta no tempo, com flashbacks, no intuito de amarrar as duas histórias.

É sensacional? Não. Inovador? Menos ainda. Eu inclusive tenho quase certeza de já tê-lo visto antes, mas não estou 100% segura. Mas vale pela história, pelo elenco (Salma Hayek é a maioral) e porque tem um charme de LA Confidential… mas com menos substância.

Obviamente, enquanto o filme rodava, estava pesquisando sobre o caso real. E foi assim que descobri outra versão dessa história – muito mais interessante – feita em 1970: The Honeymoon Killers.

Martha Beck (Shirley Stoler), uma enfermeira obesa (focam bem no fato de ela ser gorda) e desesperadamente solitária, entra para um “clube de correspondência” e conhece, por cartas, o safado Ray Fernandez (Tony Lo Bianco). Ela se apaixona perdidamente e decide ficar com ele, mesmo depois de descobrir que Ray é um boy lixo golpista que seduz mulheres sozinhas, mata e rouba o dinheiro delas. Fingindo ser a irmã de Ray, Martha se junta a ele numa violenta onda de golpes, movida pelo medo constante de que ele a abandone por uma de suas vítimas.

Aqui, o foco é a relação do casal assassino: como se conheceram, como o romance descambou para a manipulação e brutalidade, e como seguiram fazendo vítimas até pouco antes de serem julgados. Tem todo o clima de filme B, lúgubre, tenso desde o primeiro minuto. Ao menos na versão que assisti, o áudio é meio estourado, e as vozes femininas ganham um timbre agudo irritante que desequilibra as ideias.

Mas Shirley Stoler, atriz que eu nunca tinha visto antes, é hipnótica. Parece a Divine, saída de um filme do John Waters, com uma presença tão estranha quanto fascinante. O resultado é um thriller romântico de 1h55 que funciona incrivelmente bem. Li que François Truffaut o indicou como seu filme americano preferido.

No fim, acho que vale assistir às duas versões. Mas se tiver que escolher, vá direto para a de 1970 – porque é lá que está a verdadeira essência aterradora dessa história real.


PS: 11 anos depois

DO NEIDA. Aham, faz onze anos que não apareço por aqui. O post antes desse foi meses depois da minha separação. Aconteceu de UM TUDO na minha vida, mas o amor por filmes, livros e gatos sempre se manteve. O blog ficou guardado na aba do meu navegador todo esse tempo, esperando o momento certo pra clicar em "NOVO POST" de novo.

Talvez esse post seja só um ensaio de retorno. Mas, como nos bons filmes B, às vezes o que importa não é o orçamento, e sim a vontade de contar uma história. Então… vamos ver no que dá.

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