sexta-feira, 10 de agosto de 2012

amontoados de palavras

Le Malcontent (O Descontentamento/ O Descontente) | 1930 | François-Emile Barraud

Caímos.

Medo de perder, de perder, de perder. O medo que, por existir, já faz perder.

Nasceu um oceano de irascibilidade entre Eu e Você. E criamos um poço de egoísmo onde afogamos um ao outro.

Como confiamos nos sentimentos? Essas coisas abstratas que existiram antes de Você. Antes de Eu. Tudo o que vimos desde o útero é que os sentimentos podem simplesmente desaparecer.

Começamos sendo leves. Fomos nos tornando esse bicho agressivo.

Medo que paralisa: sermos como os nossos pais. Mas, como já foi previsto e vivido várias vezes desde muito, muito tempo, tudo aquilo que mais repudiamos é exatamente aquilo que estamos nos transformando. Monstros. Daqueles que trazem o perverso do outro.

Incertezas. Insatisfação crônica. Sensações que trazem a tormenta de volta à ativa.
(Às vezes se quer fugir por não acreditar que seu coração possa suportar tamanha dor. Abismal.)

Quando passa e o peito se acalma, a transmutação em algo mais sólido deve se fazer acontecer. E que seja pesado, não importa que a leveza já tenha desaparecido. É esperável que seja cheio de marcas. Cicatrizes ensolaradas reconhecíveis -- só pra sabermos que esse algo é nosso. É Eu e Você. Não um efeito adverso da falta dos meus pais, dos seus pais.

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