domingo, 15 de janeiro de 2012

as meninas, lygia fagundes telles

"Dormir dormir. Dormir até rachar de dormir sem nenhum sonho que sonho só serve para encher o saco. Tem uns bons. Aqueles." — Ana Clara

"Quero te dizer também que nós, as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos consequências, censuras, sofrimentos que talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo." — Lorena

"A gente tem que amar o próximo como ele é e não como gostaríamos que ele fosse." — Lia

Essas são as meninas que entitulam o romance de Lygia Fagundes Telles. Três moças que moram juntas num pensionato de freiras e têm a juventude, o amor e a amizade em comum. De resto, são bem diferentes umas das outras. 

Lorena (ou Lena) é a personagem romântica, inocente e a quem as outras recorrem quando estão apertadas de grana. Sua família tem dinheiro e ela não diz não a uma amiga em apuros. Sua vida pessoal é baseada em ilusões amorosas, na esperança de um telefonema e na lembrança do irmão morto quando criança. Consequentemente, acaba vivendo mais a vida dos outros que a própria.

Lia (ou Lião) é militante de esquerda, seu namorado está preso e ela receia que seja pega também. Por isso, talvez, seja a mais receosa das amigas, a mais racional. Mas nem por isso deixa de ser sentimental e sonhadora. Para cada coisa que discorda de alguém, tem um discurso preparado.

Ana Clara (ou Ana Turva) é completamente absurdada. É lindíssima, mas vive drogada. Desde criança sofre abusos, sempre viveu meio largada e agora está noiva de um velho rico e tem um amante que divide sua preferência por viver dopada. Quando está drogada, vive num mundo de fantasia, quando está sã, inventa mentiras. Ninguém a leva muito a sério, exceto uma freira que acredita que pode salvá-la.
E que capa linda <3

A história é toda tecida pela narrativas das três meninas, meio que num fluxo de consciência, sem aviso de quando troca de uma pra outra. Além disso, de vez em quando, surge um narrador em terceira pessoa. Tudo se passa em dois dias mas, quando as circunstâncias trazem memórias, as três descrevem acontecimentos do passado e a cada momento temos uma nova versão dos fatos. 

Começou a ser escrito em 1970 e foi lançado em 1974, no auge da ditadura aqui no Brasil e essa não deixa de ser uma história sobre a procura ou sobre o sonho de liberdade. Elas estão agrilhoadas e querem se ver livres. Uma da mãe neurótica e todas suas imposições, por isso sonha tanto em casar; a outra quer se afastar o máximo que puder da miséria que a persegue desde criança; a terceira, quer fugir da ditadura, voar para outro país. Cada qual divide sua história, contando o que quer para si e é como se estivéssemos lá, como se pudéssemos ler os pensamentos delas — que no caso da Ana Clara me deixou incomodadíssima.

Enquanto lia, fui me identificando um pouco com cada uma — mais com Lorena, acho — e me apegando a essa história. Quando estava chegando às últimas páginas, além da surpresa com o final, me senti um pouco triste por ter de "fechá-las". Por isso voltei, copiei alguns trechos, li de novo algumas páginas e decidi falar delas aqui. Porque todos nós temos ideais e não há nada que possamos fazer para adivinhar onde cada passo nosso vai nos levar.

"Tudo o que tive e ainda tenho, tão triste buscar lá fora o que deveria estar aqui dentro."

P.S.: Tati, obrigada pela dica ;)

2 comentários:

Vanessa Forti disse...

Comecei a ler este livro, ele não me empolgou e eu o deixei de lado. Mas depois de tantos elogios, vou me esforçar e tentar mais uma vez. Um beijo.

Emanuela disse...

Ai, Van... Tente de novo. Tem um filme também, dá pra baixar pela net.

=)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...