quinta-feira, 17 de novembro de 2011

o filme brasileiro de Hitchcock

Na década de 1940, o mundo estava em guerra. Os mercados europeus estavam fechados e isso obrigou Hollywood a procurar renda externa com os países latino-americanos. Walt Disney criava o tupiniquim Zé Carioca, num simpático agrado com a intenção de agregar países aos Aliados. Nessa pop-politicagem (parte do projeto "Política da Boa-Vizinhança"), Carmem Miranda estourou em musicais com temas tropicais bem no início dos anos 40. Outros filmes entraram na onda e tinham o Brasil como tema ou destino ou cenário. É o caso de "Estranha Passageira" de 1942 (Now, Voyager), com Bette Davis e Interlúdio de 1946 (Notorious), de Hitchcok, com Ingrid Bergman e Cary Grant.


Interlúdio é um filme noir em que Ingrid Bergman é escolhida pela Agência Secreta americana, por ser filha de um espião nazista, para uma missão no Rio de Janeiro. A missão consiste em se infiltrar na casa do líder de uma organização nazista e amigo de seu pai. Quem vai convencê-la a fazer parte da espionagem é Cary Grant, um agente que tem certos problemas para se relacionar romanticamente, mas, é claro, apaixona-se por Ingrid. Ela, por sua vez, é uma garota perdida que se charfuda na bebida. Ele a leva para o Rio e começam um caso. Porém, o tal líder nazista (Claude Rains) do qual ela tem que se aproximar era apaixonado por ela. Se isso facilita sua missão de espiã, também estraga o idílio amoroso com o homem que ama. Se ela também havia parado de beber como prova de que estava se "regenerando", Grant não acredita que ela seja capaz de mudar. Ingrid acaba casando com Claude Rains e tem agora que enfrentar o ciúme e a desconfiança da mãe dele.
Palácio Monroe, na Cinelândia, onde os agentes armavam seus planos contra os nazistas. Esse palácio não existe mais, foi demolido em 1976, apesar de ter sido tombado.

Claro que, para este filme, nem Hitchcock, nem Ingrid, nem Grant, nem ninguém esteve de verdade no Rio de Janeiro. Tudo foi gravado em estúdio, com a reprodução mal feita das ruas e praias e cartões postais cariocas em tela verde (ou azul) (ou algo que o valha). Em uma passagem num bar carioca, com o enorme logo da Antarctica (que me pergunto se pagou pra estar lá ou ganhou publicidade de graça), o garçom pergunta: "Mais alguma coisa?" em português. E nem soa como um mexicano falando portunhol.



Antes de ver o filme, não sabia que a história se passava no Brasil - não que isso contribua para ou diminua a trama, poderia se passar em qualquer lugar. Mas adiciona interesse em observar detalhes que eles se apegaram (o calor retardado no Rio, que supostamente dá muita dor de cabeça em Ingrid) e outros que ganharam licença poética (com esse mesmo calor, todo mundo na casa de Rains dormia com pijama comprido e cobertas BEM grossas). De qualquer forma, esse é um dos melhores do Hitchcok, prende a atenção, deixa a gente completamente tenso e tem Cary Grant, sempre ótimo. Mas o melhor do filme é Ingrid Bergman sendo bêbada. E ela está absolutamente linda!

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