sexta-feira, 18 de novembro de 2011

a aventura, de antonioni

aventura
a.ven.tu.ra

sf (lat adventura) 1 Acontecimento imprevisto. 2 Ação ou empresa arriscada. 3 Conquista amorosa. 4 Sucesso romanesco. 5 Patuscada. 6 Risco. 7 Acaso, sorte.
Sendo o primeiro da extra-oficial trilogia da incomunicabilidade, A Aventura (L' Avventura, 1960) é um filme para se deixar envolver. Caso contrário, a falta de razão para os acontecimentos se confundirá com falta de razão para ver o filme.

Uma sinopse do filme pode ser: a busca por uma garota (Lea Massari, como Anna) que desapareceu ou o impacto que o desaparecimento dessa garota num cruzeiro com os amigos causa na vida de cada um. Poderia ser, mas não é.

Esse grupo, formado por burgueses entediados, parece não ter nada com o que se preocupar, nada a alcançar, nada de bom pra dizer.
Eles se falam, mas não se comunicam e seus momentos mais sinceros são quando estão calados, em contemplação. O cenário da primeira parte do filme é uma ilha inabitada na Sicília, rodeada por outras ilhas igualmente pedregosas e inabitadas, uma analogia ao grupo de amigos rodeados um pelos outros, mas inalcançáveis.

 Anna vem reclamando ao seu namorado (Gabriele
Ferzetti, como Sandro) que está cansada do relacionamento deles. Logo em seguida, desaparece. Quem de fato parece se importar com isso é Claudia (Monica Vitti). A procura pela ilha não dá em nada. Pra resumir, a procura em nenhum lugar dá em nada - mas isso não é importante.
Nesse ínterim, Sandro deseja Claudia. Ela se confunde, mas não cede. Os dois se separam. Quando voltam a se encontrar, frustrados com o não aparecimento de Anna, acabam se entregando. Não parece amor: talvez desejo sexual, talvez era a única coisa a se fazer.


Sandro é um arquiteto desiludido que faz projetos comerciais porque dão dinheiro. Seu sonho de erigir catedrais foi esmagado. Numa cena, quando se depara com um jovem desenhando uma catedral, desconta sua frustração derrubando tinta no trabalho dele. Pode ser que desconte o abandono do sonho juvenil entregando-se a novas conquistas femininas.



Os relacionamentos são marcados apenas pelo acaso, pelo vazio, pela traição e pelo cinismo. Eles não dizem o que realmente pensam, nem são o que parecem. Não é possível desvendá-los nem pela expressão facial, que é nula. Claudia é a única de todo o grupo que ainda sente algum tipo de carinho, compaixão ou culpa. Ela sofre quando é traída, mas ainda assim, perdoa facilmente.

A aventura a que assistimos tem mais teor de conquista amorosa do que acontecimento emocionante. Muito antes de se tratar do mero fato "principal" (o desaparecimento), o filme escrutina a busca de Claudia por si mesma. Mas nem isso é conclusivo.

Mais stills do filme aqui.

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