Olá, Irmã.
Bom, como a senhora já deve ter percebido, eu tenho uma grande dificuldade de me expressar em público, e dessa vez, eu tinha me preparado para o encerramento do livro do Bauman, colocando no papel algumas ideias que me perturbaram. Infelizmente, não consegui ir à aula, o que me gerou uma enorme frustração, já que meus pensamentos ficaram entalados. Por isso, por desabafo, quis escrever para a senhora.
Desde o capítulo sobre religiões, a conclusão a que tenho chegado é que o mal-estar da sociedade pós-moderna está na liberdade. E como isso pode ser? A geração anterior lutou tanto por liberdade e agora ela me inquieta. Essa ideia me deixa muito mal. Talvez seja por isso que eu sou tão nostálgica por algo que não vivi. Sou um produto cuspido da pós-modernidade (sou consumista compulsiva, vivo na Internet, me preocupo com a aparência, não acho sentido em muita coisa e a terapia é a minha religião), mas idealizo a vida perfeita no modelo enlatado americano dos anos 50. O que é, claro, uma grande besteira.
Mas me pergunto que liberdade é essa e porque esse peso e sentimento de incapacidade de fazer algo. Isso me lembra muito uma comparação que li outro dia, entre George Orwell (1984) e Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo), sobre a previsão de cada um nessas obras. Orwell descreveu um mundo tomado pelo medo da opressão, da tortura, de ter cada passo 'errado' monitorado e castigado. Huxley previu uma sociedade moldada. Ela foi concebida para ser manipulada por aquilo que lhe dava prazer ou para acreditar que aquilo era bom. (Internet? TV? Videogame?) Eu, por exemplo, sou completamente alienada, me sinto inerte, não tenho pelo que lutar, não tenho um inimigo claro como já houve um tempo atrás. A liberdade era pra ser essa liquidez, essa falta de limites e/ou delineações?
Aí me vem à cabeça um conto do Borges (sempre ele), "Os dois reis e os dois labirintos". O rei da Babilônia convida o rei da Arábia a adentrar seu grandioso labirinto. Este se perde, pede ajuda divina para sair e promete ao outro que um dia lho mostrará seu próprio labirinto. Um tempo depois, com seu exército, arrasa com a Babilônia e leva o rei de lá como seu prisioneiro. Cumprindo sua promessa, mostra ao rei babilônico o verdadeiro labirinto: um enorme deserto. Este rei, abandonado a tantas opções possíveis de caminhos, morreu de fome e sede. E é assim que eu me sinto, como esse rei babilônico. Sem ter caminhos (de)limitados, não sei para onde ir, então fico parada, morrendo. Por isso faz tanto sentido que as pessoas se doem completamente a uma nova religião que as acolha e diga o que devem ou não fazer. EU me sinto desamparada nessa liberdade e às vezes acho que se houvesse alguma instituição ou pessoa que eu confiasse cegamente e me dissesse o que fazer, minha vida seria muito mais fácil. Talvez minha preguiça mental anseie por isso.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
à mestra, com angústia
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