sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Fascinado pela Beleza

Fascinado pela Beleza [Spellbound by Beauty] é uma biografia de cinema e de paixões de Hitchcock. O autor, Donald Spoto, completa a trilogia de biografias de Hitch [as outras duas, The Art of Alfred Hitchcock (1976) e The Dark Side of Genius (1983), nem têm mais em catálogo], que começou com o diretor ainda vivo. Da primeira biografia, ele omitiu algumas informações sob pedido de alguns entrevistados, que foram liberados com a morte deles e de Hitch, rendendo nos outros dois livros.



Segundo Donald, o livro "é a história de um homem tão infeliz, que se odeia tanto, tão solitário e sem amigos que suas satisfações vêm tanto de conseguir poder como de tecer fantasias e ficar rico."

Pois é. O cara era adorado, tido como mestre e gênio, muitos atores e atrizes ansiavam trabalhar com ele... mas na vida real, ele se comportava como um escrotão, com piadas sujas e bobas, queria a atenção de todo mundo [principalmente de suas protagonistas] e reagia muito mal ao desprezo, tratando mal quem quer que fosse que ele cismava de não ir com a cara. Agradável, não? Conheço um MONTE de gente com comportamento similar. Contudo, o que A.H. fez com toda essa desgraça pessoal foi traduzir isso em imagens com as quais nos relacionamos, nos assustamos, nos fascinamos. Em cada um de seus filmes há um pouco da personalidade distorcida, cruel e acossada do britânico.

Pelo jeito, o que no começo da carreira dele era tido com excêntrico, só foi piorando com o passar dos anos, com o aumento do sucesso e da grana - e a idas e vindas de seu peso. [especialmente depois do seu seriado de TV, Alfred Hitchcock Presents e do mais famoso de seus filmes: Psicose]. E quem mais sofreu com isso, além, claro, dele próprio, ... ou melhor: quem mais sofreu ataques de investida pesada foi Tippi Hedren, protagonista de seus Os Pássaros e Marnie, Confissões de uma Ladra [dois de seus últimos filmes] e que aparece na capa da biografia.

Não diferentemente de outras loiras protagonistas [Madeleine Carroll, Ingrid Bergman, Grace Kelly, Kim Novak], Hitchcock apaixonou-se platonicamente por Tippi. Só que, dessa vez, as investidas, humilhações e privações da atriz foram muito maiores que as das anteriores. Além do assédio frequente, da exclusão dos outros membros da equipe - imposta por A.H. e da tortura de ter sido atacada por pássaros de verdade na cena final de Os Pássaros, ela teve de lidar com chantagens do tipo "ou vc dá pra mim, ou vai morrer sem fazer mais um filminho sequer". Ela preferiu arriscar sua carreira e Hitch cumpriu sua promessa [eles tinham um contrato de 7 anos], negando emprestá-la para qualquer diretor. Até que, em 1967, resolveu cedê-la para Charles Chaplin, pro filme A Condessa de Hong Kong [com um elenco que conta com Marlon Brando e Sophia Loren e é, segundo consta, o único filme de Chaplin colorido]. Daí, depois de um tempo, concordou em cancelar o contrato com Tippi, que pôde então fazer outros filmes e coisas pra TV.

E aí, depois de Marnie, os filmes dele só decaíram. E só restou a sombra do gênio, que ficou pra trás com a nova onda de diretores jovens e rebeldes. O glamour de Hollywood estava no fim. E como ele lidou com isso? Bebendo e comendo cada vez mais. E sim, é pesado... e é... biografias tendem a ser tristes... e quando leio certas coisas, penso: "por que você não fez diferente, saco!?" Passado tanto tempo e condensando 80 anos em 300 páginas, tudo parece mais fácil.

P.S.1: Vale lembrar que Spellbound [Quando fala o Coração], que inspira o nome da biografia, é o segundo filme de Hitchcock dirigindo Ingrid Bergman, uma de suas musas. E na minha opinião de tradutora no diploma, a tradução mais adequada ao título seria "Obcecado pela Beleza". Apesar de 'spellbound' ser de fato 'fascinado', 'obcecado' define mais a impertinência e a ideia fixa de mulher ideal do diretor. =]

P.S.2: Tippi Hedren é mãe da também atriz Melanie Griffith [aquela casada com Antonio Banderas e que pesou a mão nas intervenções cirúrgicas].

P.S.3: Mais conhecido é o fruto de Ingrid Bergman e do cineasta Roberto Rossellini: Isabella Rossellini.

2 comentários:

Daniel disse...

Eu gosto do que vc escreve. OO

tatiana disse...

fiquei muito curiosa pra ler esse livro!!
( e a tippi hedren eh a minha loira-hitchcock preferida, e os passaros eh o melhor filme de todos, mas tah, cë sabe,rs...)
mas ce sabe que naquele livro do truffaut qdo ele fala da TH, s[o diz que ele a descobriu e que fez de tudo pra alavancar a carreira dela, e que ela foi, sei lah, ingrata e quebrou o contrato.... :/
*chocada*
(com a minha [propria ingenuidade, digo,rs...)

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